Com emoção mesclada à esperança, familiares e amigos lembraram, nesta terça-feira (07), os quatro anos da chacina que matou 12 crianças na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, em 07 abril de 2011, na missa celebrada na Paróquia Nossa Senhora de Fátima. Na cerimônia, encomendada pela Associação dos Anjos de Realengo, com apoio do Viva Rio, os presentes cobraram mais segurança nas escolas da região.
Mãe e vítima do episódio, Adriana Silveira espera que o encontro conforte os corações dos familiares dos estudantes. “A luta é que a morte das crianças deixe o legado de mais segurança e melhor educação para o bairro”, sublinhou.
Adriana perdeu sua filha, Luiza Paula, 14 anos, e até hoje não conseguiu superar a dor. “A gente tem que aprender a viver novamente. Depois da perda de um filho você não é mais a mesma pessoa, mas estou lutando para que a morte da minha filha não seja em vão. Talvez um dia eu possa descansar e falar que o o ocorrido mudou a história da educação, da segurança e da educação do nosso país”.
O sentimento da progenitora pode ser traduzido através da fala do músico Pedro Abrunhosa: “A dor de perder um filho não tem nome. Não é dor sequer. É algo muito mais fundo porque é o contrário da razão, da vida, da ordem natural do tempo. Nunca se apaga, nunca se esvai, nunca apazigua. É uma eterna noite negra instalada num segundo”.
Depois da chacina, como uma forma de superar a angústia, Adriana se juntou a outros familiares e fundou a Associação dos Anjos de Realengo. A instituição tem como principal bandeira a luta contra o bullying – suposta motivação do autor do atentado.
No dia do massacre, Adriana Silveira deixou a filha ir sozinha para a escola. Ela estava atrasada e aquele seria o último dia da jovem na Tasso da Silveira. A mãe pretendia acertar os últimos detalhes da transferência da adolescente para outra instituição de ensino. Pouco depois, quando Adriana procurou a filha, foi surpreendida pela tragédia.
Após a missa, os familiares caminharam em direção à Escola Tasso da Silveira, onde aconteceram ações em prol da importância da doação de sangue e sobre o desarmamento, em parceria com o Viva Rio. Para a coordenadora do Voluntariado do Viva Rio, Cibele Dias, “é necessário lutarmos pelo desarmamento para que episódios como esse não se repitam”.
Como resposta à comoção pública pelo massacre, o Ministério da Justiça decretou, em 2011, que a Campanha Nacional de Desarmamento tivesse caráter permanente. Na ocasião da chacina, o autor do massacre, Wellington Menezes de Oliveira, portava revólveres calibre 38 e 32, um deles com o número raspado. O outro teria sido roubado de uma residência há 18 anos.
Outra tragédia há seis anos
Em 31 de março de 2005, insatisfeitos com as mudanças de comando de diversos batalhões, onze policiais militares se reuniram em um bar e planejaram uma vingança. A chacina, a pior já registrada no Estado, assassinou 29 pessoas aleatoriamente e alterou para sempre o cotidiano das famílias dos mortos e dos moradores dos municípios de Nova Iguaçu e Queimados.
Dez anos depois, mães, parentes e amigos das vítimas se reuniram para um tributo, em que carregavam flores brancas e cartazes pedindo paz e justiça. Organizações como o “Com Causa” e o “Fórum Grita Baixada” integraram o evento, que começou na Avenida Presidente Dutra e fez paradas estratégicas nos locais onde as vítimas foram encontradas.
Segundo Luzia Moura, mãe de Sandro Vieira, que tinha 16 anos quando foi assassinado, o ato de paz acontece desde o primeiro aniversário da chacina, mas mobiliza cada vez menos participantes. Embora conteste o trabalho da Justiça, ela considera resolvidos os processos judiciais pela morte de seu filho.
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“Sobre o Estado já está tudo certo, o que me indigna é saber que foram onze assassinos participantes do crime, mas somente cinco foram condenados. Eles continuam matando por causa desta impunidade. Enquanto estou aqui, eles estão matando”, frisou. “Para mim, a matança pior é dos policiais, que deveriam dar o exemplo. A polícia não está preparada para isso”, revolta-se.
Em dez anos, aponta Silvânia Azevedo, irmã da vítima Renato Azevedo, o sentimento que resta é o de indignação. A família ainda tenta se recuperar da tragédia, tarefa nada fácil. Eles não têm mais esperanças de que a atual situação da Baixada melhore, já que os índices de homicídios da região continuam aumentando.
Segundo dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), só em fevereiro de 2015 foram 32 homicídios dolosos registrados em Nova Iguaçu. “A caminhada não muda nada. Mudança da violência? Com certeza não. A gente faz caminhada pedindo paz, mas ela não chega. Não dá para acreditar que a violência vai acabar só porque a gente está aqui se manifestando”, lamenta Silvânia.
(Texto: Flávia Ferreira e Eli Geovane | Foto: Amaury Alves e Marcelle Decothé)