As cinco Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) administradas pelo Viva Rio receberam nesta terça-feira (25) o Prêmio do Programa de Qualidade (PQRio) do secretário estadual de Saúde, Marcos Esner Musafir, e de Valéria Moll, subsecretária de Unidades Próprias. A cerimônia, que agraciou as UPAs de Irajá, Maré, Penha, Engenho Novo e Ilha do Governador, foi realizada no Centro Cultural da Caixa Econômica, no Rio.
“O prêmio é um símbolo do resultado do esforço, dedicação e empenho diários desse time na busca pela melhoria da qualidade assistencial nas unidades que gerenciamos”, declarou Ana Schneider, coordenadora de Saúde e Desenvolvimento Social do Viva Rio. “De um total de dez UPAS premiadas no Estado, cinco são gerenciadas por nós. Isto nos dá muito orgulho e a certeza de que estamos no caminho certo”, comemorou.
>> UPA Engenho Novo
Das cinco UPAs do estado administradas pelo Viva Rio, a Engenho Novo foi a única a conquistar Bronze pelo Prêmio Qualidade Rio (PQR) 2014. Criada em outubro de 2008, ela ganhou Menção Honrosa por quatro anos seguidos, de 2010 a 2013. Uma característica bem específica da unidade é o fato de ser coordenada por três mulheres, Eline Thomé, pediatra na área médica – no cargo desde 2010 -, Márcia Leika na administração e Vivian Santos (foto), na enfermagem.
A maior diferença, porém, é que a equipe já trabalha com o quesito qualidade desde 2010, daí os resultados que não param de melhorar. Ela também está no Programa da Acreditação do Consórcio Brasileiro de Acreditação (CBA), representante no Brasil da Joint Comission International (JCI), que avalia a qualidade dentro de padrões internacionais. “Fazemos pesquisa de satisfação todo mês. Em 2013, a média foi de 80% e em 2014 ficou entre 88% e 90%”, contabiliza Eline.
Com uma média diária entre 300 e 400 atendimentos, em 2013 – ano de referência para a premiação – passaram pela unidade 90.277 pacientes, foram realizadas 283 remoções e 416 transferências. São ao todo 269 funcionários.
Enquanto as demais UPAs do Viva Rio se compararam entre si no relatório feito para o PQR, a Engenho Novo se baseou na UPA Botafogo, detentora de um Ouro. A pontuação – ainda desconhecida pelos premiados, que só sabem a categoria em que foram premiados (veja quadro) – começa pelo resultado obtido pelo relatório. Os que se saem bem neste quesito são visitados por uma auditoria física, que produz o resultado final.
Para se ter uma ideia de como funciona essa comparação, feita em 2013 – parâmetros adotados na premiação de 2014 – ou referenciamento, na linguagem técnica, os índices de satisfação em Botafogo atingiram 90%, enquanto no Engenho Novo ficaram em 80%; foram oito acidentes biológicos no Engenho Novo e 11 em Botafogo; 58.442 atendimentos durante o ano no Engenho Novo e 108.184 em Botafogo; 0,50% pacientes transferidos no Engenho Novo e 0,30% em Botafogo e o atendimento a pacientes em risco em menos de 30 min, 69% no Engenho Novo e 84% em Botafogo.
Como explica a coordenadora médica, as melhorias dos processos são feitas quando se oberva que estes não atendem aos objetivos e não satisfazem as expectativas dos usuários e colaboradores, para manter a liderança e o diferencial no mercado. “Os coordenadores locais elaboram um plano de ação e seguem as etapas de construção do processo”, explica. Pode se observar, portanto, que o que não falta a esta equipe é experiência, para continuar a aprimorar os resultados.
>> UPA Ilha do Governador
Os altos índices de satisfação dos pacientes, que atingiram 96% de aprovação entre 17.369 mil usuários de julho a setembro de 2014, corroboram a indicação da UPA Ilha do Governador a ganhar sua primeira Menção Honrosa pelo Programa Qualidade Rio (PQR) 2014. “Foi o resultado do cuidado com o paciente, desde a chegada à UPA à saída”, atribui o coordenador médico, Marcelo Tavares de Oliveira, à conquista da premiação concedida pela secretaria estadual de Desenvolvimento Econômico, Energia, Indústria e Serviços (SEDEIS).
Localizada no bairro da Cacuia, a UPA foi inaugurada em 2008 e em janeiro de 2013 passou à administração do Viva Rio, quando Marcelo Tavares assumiu a coordenação médica da unidade. A premiação é relativa ao desempenho durante o ano de 2013 e, para Tavares, alguns diferenciais da UPA justificam a premiação.
Entre eles, o serviço de pediatria de emergência, já que a região conta apenas com uma clínica particular e não há hospital pediátrico na região. “Vem todo mundo para cá, atendemos 100% da emergência na Ilha do Governador. São cerca de 160 crianças diariamente”, contabiliza.
Além de Marcelo Tavares, o tripé de coordenação é formado ainda por Lúcia Vilella Lacerda, na administração, e Luciana Ferreira, na enfermagem (foto). Segundo Lúcia, são realizadas reuniões periódicas de “pactuação” com hospitais da região, para tentar reduzir o fluxo e tempo de permanência dos pacientes. “O sistema não se encerra na saúde. Mesmo os que não podem ser atendidos, cerca de 40% dos que chegam aqui, recebem total atenção ao serem transferidos para as unidades do entorno. Os casos graves seguem em nossa própria ambulância”, esclarece.
A unidade da Ilha dispõe de 280 funcionários, 243 diretos do Viva Rio e 37 indiretos, para serviços. Todos os médicos e a enfermagem passaram pelo Centro de Treinamento Berkeley, que oferece programas de qualificação profissional e treinamento com padrão internacional.
São uma média de 450 pacientes/dia, que chegam a 14 mil por mês. Os 16 bairros atendidos pela UPA abrigam 213 mil moradores. A unidade também presta atendimentos sociais, casos específicos como o de mulheres que apanham dos maridos e necessitam de atenção psicológica. “Outro exemplo são idosos, cujas famílias os deixam aos nossos cuidados enquanto viajam durante os finais de semana”, conclui Tavares.
>> UPA Irajá
Este ano, a UPA Irajá conquistou sua terceira Menção Honrosa pelo Prêmio Qualidade Rio 2014. O que deixa a equipe mais empolgada, porém, é saber que o desempenho da unidade em 2014 vai alçá-la ao Bronze, em 2015. Criada em agosto de 2007 no bairro da zona Norte carioca de mesmo nome, a UPA passou à administração do Viva Rio a partir de outubro de 2012. No ano seguinte, ganhou sua segunda Menção Honrosa.
Conforme relata Cátia Dias, assessora para as UPAS do Viva Rio, que também trabalha na de Irajá, a perspectiva do Bronze em 2015 se deve a fatores como o fato da unidade estar batendo a meta de duas horas de espera. “Antes, esse tempo chegava a sete horas. Outro fator foi a redução de risco – e diagnóstico da enfermagem que encaminha o paciente ao atendimento médico – de 58% para 97%”, aponta.
A coordenadora médica, Magna Sandra Gomes, 60 – especializada em clínica médica e em medicina intensiva – orgulha-se em dizer que começou a fazer plantões na unidade, que passou a coordenar em maio de 2013. Ali são atendidas cerca de 500 pessoas diariamente – 40% delas idosas – que correspondem a 14 mil mensais, dos 15 bairros vizinhos. Em 2013, a aprovação da UPA alcançou 90%, entre 13.800 pacientes.
Um dos diferenciais da unidade é o atendimento à dor toráxica para infarto, herança dos tempos de administração pelo Corpo de Bombeiros, encerrada em 2008. Só em outubro, foram 33 casos, de pacientes de 33 a 88 anos. “Hoje todos fazem trombólise – tratamento preventivo ao trombo -, mas nós fomos os pioneiros. Temos uma grande população de idosos e também há muitos casos de acidente vascular cerebral, o derrame”, explica Magna, que defende a criação de uma UPA geriátrica na região.
De acordo com a coordenadora médica, o maior número de atendimentos na pediatria é para os casos de bronquiolite. “Também há muita dengue e acredito que devem ter passado por aqui, sem diagnóstico, casos da chikingunya, também provocada pelo mosquito aedes aegypti. Fizemos ainda estudos de capacitação e estamos preparados para o Ébola”, informa Magna.
Além de Magna Gomes, o tripé da coordenação é formado por Cláudia Valéria Cunha, na enfermagem, e Rodrigo Camera (foto), na administração. Independente de suas características e diferenciais, a coordenadora médica da UPA acredita que um dos fatores que levaram à premiação foi o trabalho com a comunidade. “Abraçamos todas as patologias, todos os pacientes são recebidos e encaminhados. Trabalhamos pelo melhor”, conclui.
>> UPA Maré
A primeira UPA criada no Brasil, na Maré, zona Norte do Rio, em maio de 2007, está de vento em popa. Acaba de ganhar sua terceira Menção Honrosa pelo Prêmio Qualidade Rio 2014, da secretaria estadual de Desenvolvimento Econômico, Energia, Indústria e Serviços. O coordenador médico Edson Santana, ginecologista e administrador hospitalar de 63 anos, no entanto, não está satisfeito. “Nosso objetivo é receber o bronze e chegar ao ouro”, justifica.
O que dificultava a avaliação da UPA era a ausência de parâmetros, que agora passaram a ser referenciadas pelas cinco unidades do estado administradas pelo Viva Rio (Engenho Novo, Penha, Ilha do Governador e Irajá, além da Maré), cujos perfis são semelhantes. A média de aprovação destas cinco UPAS foi de 88% e a Maré – composta por 16 bairros, com 137 mil moradores, de diferentes facções – ficou com 85%, entre seus 90% de moradores e mais 5% de pessoas provenientes de áreas vizinhas.
A regionalização da unidade é um de seus diferenciais. Como se trata de uma área de conflitos, como ocorre na Rocinha – onde o Viva Rio administra uma UPA com o município -, só vem à Maré que é da Maré. Ou seja, não é uma UPA de passagem, mas de demanda específica. “No entanto, tenho observado que começa a haver um aumento destes 5%”, diz Santana, que aponta também como característica da unidade o longo tempo de serviço tanto do corpo médico quanto dos funcionários. “É algo salutar”, define. O apoio administrativo é considerado experiente e a equipe reconhece o respeito local em relação à unidade.
Segundo o coordenador de administração, Duval de Oliveira, apesar de área de risco, nunca houve uma bala perdida que resvalasse na UPA. “Sempre tivemos a consideração dos moradores, além disso, a sede é marginal, está mais perto da Avenida Brasil, não fica encravada dentro da comunidade”, afirma.
Como nas demais UPAs administradas pelo Viva Rio, há um grande número de moradores da comunidade que trabalha na unidade. Por isso, de acordo com Oliveira, é preciso cautela com o que se fala, “porque pode chegar de forma distorcida lá dentro”, acrescenta.
A unidade, com 205 funcionários diretos e 34 terceirizados, atende a uma média diária de 350 pacientes, que chegam a 12 mil por mês. A primeira Menção Honrosa veio em 2010 e a segunda em 2013, quando o Viva Rio já havia assumido a administração. Além de Santana e Oliveira, a terceira pessoa do tripé coordenador é Paula Ribeiro, da enfermagem (foto). Agora, todos se preparam para atingir a próxima meta, que é chegar ao bronze.
>> UPA Penha
Inaugurada em 2008 e administrada pelo Viva Rio desde janeiro de 2013, a UPA Penha conquistou sua primeira Menção Honrosa pelo Prêmio Qualidade Rio 2014. O coordenador médico, Fernando Pedrosa, cirurgião geral de 43 anos, tem na ponta da língua algumas explicações para este resultado. “Quando assumimos, em junho de 2014, a média de atendimentos mês era de 8 mil, hoje são 13 mil, um aumento de 60%”, compara. A média diária também subiu de 400 para 600 pacientes.
É bem verdade que a premiação é resultada do relatório de 2013, porém o entusiasmo de Pedrosa é visível e se justifica. Os números deste ano são realmente muito bons: entre julho e setembro de 2014, a taxa de satisfação entre 2.001 usuários foi de 99,7%. No início do ano, este percentual estava em torno de 50%, segundo ele. “A UPA tinha sérios problemas de falta de médicos. Antes, eram de três a quatro médicos por plantão, agora são um mínimo de seis de dia e outros seis à noite”, contabiliza.
De acordo com o coordenador, antes de sua gestão os médicos não se interessavam em trabalhar na unidade, por sua má fama Após sua experiência em outras cinco UPAs, porém, Pedrosa teve a oportunidade de trazer para a Penha alguns dos bons profissionais que já conhecia. “Demos condições de trabalho e enfatizamos o serviço de rotina. Se antes tínhamos de 15 a 18 pacientes internados, este número passou a ficar entre seis a nove. Isto porque era um só médico, que não conseguia atender ao fluxo de saída da unidade”, explica.
Pedrosa trouxe para a UPA dois médicos de grande experiência profissional, responsáveis pela redução do tempo de permanência na unidade – uma das metas estabelecidas pelo critério de qualidade. O resultado foi uma melhoria do trabalho dos demais profissionais. “Hoje há médicos batendo na porta e já não temos vagas. Se antes a fama não era boa, hoje há fila de espera”.
Outro aspecto relevante foi a quebra de barreiras entre as três coordenações. Pedrosa já tinha amizade com o coordenador Vander de Oliveira e mantém um ótimo relacionamento com Felipe Acioli, da enfermagem (foto). “Estamos todos no mesmo time, com as mesmas metas”, exulta. O coordenador médico também atribui sua presença assídua na unidade à solução de problemas burocráticos, o que se reflete em mais segurança para a equipe.
Com a experiência adquirida no Exército, onde atuou como capitão, Pedrosa introduziu normas na unidade que também contribuem para os bons resultados. E se antes as regras eram praticamente inexistentes e a rivalidade imperava, hoje o quadro é outro. “Posso ser um pouco caxias, mas até hoje não tivemos atritos”, conclui.