Casa de Cultura promove geração de renda

A medicina tradicional chinesa garante que a paciência e a persistência são os principais pilares do sucesso. Essa lição, levada muito a sério no Oriente, demarcou o trabalho da oficina de corte e costura da Casa de Cultura Milton Santos, no bairro Penha Circular, que agora entra em um novo momento ao criar a Cooperativa “Costurando a Gente se Entende”. Além de gerar de renda para 20 mulheres, a atividade funciona como terapia, onde é possível virar a página do passado e começar tudo de novo.

cooperativa costurando a gente se entende_Casa de Cultura Milton Santos

Integrantes da cooperativa trabalham juntas na produção das peças que serão comercializadas | Foto: Vitor Madeira

Com idades que variam entre 35 e 70 anos e um perfil bem semelhante – desempregadas e donas de casa -, a Cooperativa produz semanalmente 30 peças variadas, entre almofadas, peso de porta, porta talher, bolsas e necessaires, que são comercializadas em feiras e exposições. Metade do valor arrecado com a venda dos produtos é revertida para a compra de material e o restante dividido entre as trabalhadoras.

Além de fonte de renda, o empreendimento é uma oportunidade de mudança. Uma das veteranas e mais falantes da turma, Rosilda Aparecida Duarte, 46 anos, não imaginada o quanto esse trabalho iria transformar a sua vida. “Antes eu era muito ansiosa e estava sempre discutindo em casa, por isso fazia uso de muitos calmantes. Agora não preciso mais disso, a minha relação com meu marido e filhos melhorou e passei a olhar mais para as minhas vontades”.

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A máquina de costura que antigamente era sinônimo de medo, hoje é fonte de renda | Foto: Vitor Madeira

Todas as mulheres que integram a cooperativa participaram, em 2013, das oficinas de corte e costura na Casa de Cultura. Muitas delas não sabiam nem colocar linha na agulha e tinham medo de se aventurar nessa nova empreitada. “Foi bem difícil no inicio, cheguei a duvidar se conseguiria”, disse Rosilda, que está levando a sério a proposta da cooperativa e até ganhou uma máquina de costura de presente da mãe. “Em casa eu termino as coisas que começo aqui e faço outros produtos para vender”. O último que produziu foi um conjunto de banheiro, que exibiu toda orgulhosa.

Diferente dessa, a paraibana Creuza Silva, 64 anos, já era intima da alfaiataria quando se inscreveu para as oficinas. Autodidata, em casa ela costumava produzir cortinas e fazer consertos em roupas, no entanto, com a cooperativa, ela já se sente uma profissional da costura. “Isso vai ser muito importante para a gente, pois iremos conseguir o nosso próprio dinheiro. No início sabemos que será pouco, mas estamos certas de que vai dar certo”.

 

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Rosileia é uma das mais ativas na cooperativa; “aqui é uma terapia para mim” | Foto: Vitor Madeira

Creuza não foi sempre tão otimista, principalmente depois da trágica morte de seu marido, há 12 anos. “Eu passei 28 anos casada com ele, mas ele arrumou outra mulher na rua e acabou assassinado aos 56 anos. É muito difícil perder uma pessoa desse jeito e eu ainda estou me recuperando”.

Com os olhos marejados, a paraibana afirma que o tempo que passa na cooperativa a ajuda a superar essa perda e a ter outra perspectiva de futuro, onde ela esteja sempre em primeiro lugar. “Sofri muito quando cheguei ao Rio, passei por muita humilhação e dificuldade. Não esperava nada de novo em minha vida, mas agora eu tenho uma ocupação”.

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Dona Creuza está confiante com o futuro da cooperativa: “Se todas trabalharmos juntas, isso será um sucesso” | Foto: Vitor Madeira

O trabalho nas máquinas, que antes amedrontavam essas mulheres ou não eram encarados como profissão, agora serve como terapia e uma fonte de renda. A oficineira de costura da casa, Rosineia dos Santos, conhecida como Dona Nega, contou que às vezes as mulheres choram enquanto trabalham. “Algumas falam que estavam em casa só esperando a morte chegar por que achavam que não conseguiam fazer mais nada e isso é muito triste”.

Nega afirma que “o processo é lento, mas no final das contas percebemos que todo esforço valeu a pena”. A fala da oficineira lembra o provérbio do bambu chinês. Depois de plantada a semente deste arbusto, não se vê nada por quatro anos – exceto o lento desabrochar de um diminuto broto, a partir do bulbo. Ao longo desse tempo todo o crescimento é subterrâneo, numa maciça e fibrosa estrutura de raízes que se estendem vertical e horizontalmente pela terra, mas então, no quinto ano, o bambu chinês cresce, podendo atingir de 25 a 30 metros de altura.

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Nega (de preto) auxilia na produção da cooperativa e também ministra aulas nas oficinas do básico | Foto: Vitor Madeira

Um escritor de nome Covey escreveu: “Muitas coisas na vida pessoal e profissional são iguais ao bambu chinês. Você trabalha, investe tempo, esforço, faz tudo o que pode para nutrir seu crescimento, e às vezes não vê nada por semanas, meses ou anos. Mas se tiver paciência para continuar trabalhando, persistindo e nutrindo, o seu quinto ano chegará, e com ele virão um crescimento e mudanças que você jamais esperava”.

A Casa de Cultura Milton Santos é uma iniciativa da Coordenadoria da Área Programática (AP) 3.1, cujas unidades de saúde são administradas pelo Viva Rio. A instituição também promove oficinas de costura para principiantes, oficinas de teatro infanto-juvenil, aulas de MMA e núcleo de mediação de conflitos. Além de contar com uma brinquedoteca, instalada pelo Viva Rio na unidade.

(Texto: Flávia Ferreira )

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