UPAs batem a marca de 30 milhões de atendimentos

Número de atendimentos das Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) do Rio de Janeiro foi destaque no portal Revista Hospitais Brasil. Matéria ressalta que o contingente equivale às populações do Nepal, Peru e Malásia. Modelo de sucesso foi importado por outros estados brasileiros e até para a Argentina. Confira o texto na íntegra.

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Luiz Fernando, paciente da UPA Engenho de Dentro. Crédito: Luiz Augusto Barros / Divulgação

Trinta milhões de atendimentos. Essa é a marca que as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) do Rio de Janeiro ultrapassaram na última quarta-feira (9), número equivalente às populações de países como Nepal, Peru e Malásia. Ao todo, já foram distribuídos mais de 200 milhões de medicamentos e realizados quase 25 milhões de exames. Quando o projeto foi iniciado, há oito anos, os hospitais estaduais de emergência realizavam, juntos, 2,5 mil atendimentos por dia. Hoje, contando com o funcionamento das UPAs, o número saltou para 20 mil em toda a rede. De todos os casos atendidos nas UPAs, 99,5% são resolvidos nas próprias unidades.

“As UPAs são uma revolução no atendimento médico. Conseguimos aumentar nossa capacidade de atendimento, com apenas 0,5% dos casos necessitando de transferência. É um motivo de orgulho para o estado do Rio ter criado um modelo de atendimento que cresceu pelo país e foi levado até para a Argentina”, afirma o Secretário de Estado de Saúde, Felipe Peixoto.

Das 416 UPAs em funcionamento pelo país até o dia 4 de setembro, o Rio concentra 58, sendo o segundo estado brasileiro com mais unidades de pronto atendimento – o primeiro é São Paulo. Juntas, as UPAs do Rio somam uma área construída de quase 90 mil metros quadrados e mais de mil leitos, divididos entre os de sala vermelha e amarela. O início das atividades foi em 31 de maio de 2007, quando a do Complexo da Maré foi inaugurada. O objetivo do Governo do Estado, através da Secretaria de Estado de Saúde, era diminuir a demanda nas emergências dos hospitais, com as UPAs ficando responsáveis por atendimentos de baixa e média complexidades. Equipes de acolhimento e classificação de risco são treinadas para atender de forma humanizada aos pacientes.

Um dos responsáveis pelo expressivo número de atendimentos – que daria para encher quase 385 Maracanãs – é o pediatra Luiz Antônio dos Santos, que atende na UPA de Realengo, na Zona Oeste, desde a sua inauguração. Querido por pacientes e colegas de trabalho, ele conta um pouco de sua rotina.

“O atendimento é uma relação de confiança e uma grande responsabilidade para os médicos, afinal, lidamos com o que há de mais valioso no mundo: a vida. Sou de um tempo em que os médicos eram considerados sacerdotes de Deus na Terra para cuidar das pessoas. Aprendíamos isso na faculdade e considerávamos o dom da medicina uma verdadeira missão”, conta o médico que trabalhou por 33 anos no Hospital Estadual Albert Schweitzer e, por dez anos, na ONG Anjos do Asfalto.

O aumento de responsabilidades no trabalho levou o gerente de vendas Luiz Fernando Campos a um infarto. No dia 11 de março de 2014, ele chegou em casa, no Méier, sentindo dores no peito depois de mais um dia de expediente aparentemente normal. Preocupados, a mulher e o filho decidiram levá-lo à UPA do Engenho Novo, a mais próxima de onde moram e elogiada por uma familiar atendida na unidade.

“Em 20 minutos, meu pai já estava fazendo um eletrocardiograma. Ele precisou ficar internado por três dias e eu o acompanhei. Não pude ficar na mesma sala que ele, mas fiquei na recepção e pude ver a atenção da equipe com os pacientes. Meu pai foi muito bem tratado e, por isso, decidi escrever agradecendo a todos os que o atenderam. É uma realidade que precisa ser conhecida”, destaca o universitário Rafael Campos, de 26 anos, que elogiou os profissionais da unidade para a ouvidoria da UPA.

“Recebi um atendimento excelente, parecia até uma unidade particular. Nessas horas percebemos é possível prestar um serviço público de qualidade. Basta querer”, completa Luiz Fernando.

Trabalhando na UPA da Maré desde janeiro de 2009, o enfermeiro Carlos Eduardo Rodrigues, de 33 anos, aponta como um dos diferenciais da unidade a localização. Afinal, a UPA fica no complexo de comunidades que dá nome à região e, por isso, a maior parte dos atendimentos é feito aos moradores, que conhecem a equipe médica e os funcionários pelo nome. O clima de grande família é tão forte que eles são convidados a participar de eventos dos moradores.

“Na UPA da Maré, os pacientes nos conhecem pelo nome e nos tratam com muito carinho. Recebemos demonstrações sinceras de afeto, como beijos e abraços, e isso é bom demais. A enfermagem tem como marca um atendimento mais humanizado, mais próximo do paciente, e na Maré essa relação é ainda mais estreita. Costumamos ganhar bolos como forma de agradecimento, principalmente de idosas”, conta Carlos Eduardo, que também é socorrista do Corpo de Bombeiros.

Protocolo de atendimento à dor torácica ajuda a salvar vidas – Desde 2009, as UPAs seguem um protocolo de atendimento à dor torácica, que vem ajudando a minimizar sequelas e salvar vidas: o paciente que der entrada na unidade com quadro suspeito de infarto faz eletrocardiograma e exames laboratoriais específicos para confirmar a suspeita da doença. Sendo positivo, logo são medicados e encaminhados para a realização de exames e procedimentos complementares em unidades com profissionais especializados. Sendo negativo, o paciente, depois de medicado, permanece em observação sendo acompanhado pela equipe médica na unidade.

Uso de trombolíticos diminuem chances de sequelas causadas por AVC – Outro procedimento que vem ajudando pacientes atendidos nas UPAs é a aplicação de trombolítico, procedimento não invasivo indicado para casos de Acidente Vascular Cerebral Isquêmico. Os pacientes que dão entrada nas Unidades de Pronto Atendimento com sintomas de AVC são avaliados remotamente por neurologistas, que atendem 24 horas e, caso tenham o perfil de tratamento com trombolítico, são transferidos para os hospitais estaduais Getúlio Vargas, Adão Pereira Nunes, Azevedo Lima e Alberto Torres. Na maioria dos casos, as sequelas são revertidas ou diminuídas significativamente em função da rapidez do diagnóstico e do início do tratamento. Atualmente, o Hospital Estadual Getúlio Vargas ocupa o segundo lugar do país entre as unidades que mais realizam trombólise e já aplicou o procedimento em mais de 140 pacientes com taxa de sucesso de cerca de 95%, percentual acima da média mundial.

As UPAs funcionam sete dias por semana, 24 horas por dia. Sua estrutura conta com equipamentos de raio-X, eletrocardiografia, laboratório de exames e leitos de observação. A equipe médica é composta por clínico geral, pediatra, dentista e enfermeiros.

O estado do Rio exportou o modelo de atendimento para outros estados – hoje já são 416 UPAs no Brasil – e até para fora do país: Buenos Aires, a capital da Argentina, adotou o sistema de atendimento médico criado pela SES. Atualmente são 12 Unidades de Pronto Atendimento em funcionamento na província, mas o governo pretende aumentar o número para 20 até o final do ano.

Práticas de responsabilidade social e ambiental também fazem parte da rotina de trabalho dos profissionais. Um exemplo é a reutilização de papelão, caixa e vidro feito na UPA de Botafogo, na Zona Sul, que é revertido em auxílio à Associação de Moradores do Dona Marta. Os materiais recicláveis coletados na unidade são revertidos em desconto na conta de luz, graças a uma parceria da unidade com a Light. Até agora, foram arrecadados mais de duas toneladas em material reciclável, rendendo uma diminuição de R$ 292,00 na conta da associação. Outra iniciativa recente foi a campanha de arrecadação de livros. Em um mês, foram doados pelos funcionários 112 exemplares infanto-juvenis e entregues ao Lar Maria de Dolores, instituição de caridade que atende mais de 40 crianças e adolescentes, oferecendo reforço escolar, oficina de artesanato e refeições.

(Fonte: Revista Hospitais Brasil)

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