Semana da Luta Antimanicomial é celebrada no CAPS da Rocinha

A Reforma Psiquiátrica Brasileira aposta que os pacientes recebam tratamento em liberdade, próximos de suas redes sociais e afetivas, sem serem isolados da sociedade. O tratamento mais humano para pessoas com transtornos mentais sempre foi uma luta constante daqueles que sonhavam com essa reforma. A lei Paulo Delgado (10.216/2001) foi uma conquista, há 12 anos, da qual origina-se a Política de Saúde Mental, mas vem sendo ameaça pela proposta de internação compulsória. A advertência foi feita pela diretora do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) III Maria do Socorro Santos, Paula Urzúa Taleikis.

“O que ocorre é um certo retrocesso do processo de transformação promovido pela reforma, uma vez que o recolhimento dos usuários e sua internação compulsória em locais fechados, isolados da sociedade, desrespeita os direitos humanos conquistados a duras penas durante 30 anos de luta antimanicomial e 12 anos da lei 10.216”, informou a diretora do CAPS. A unidade promoveu uma atividade relacionada à Semana da Luta Antimanicomial (15 a 17 de maio) com exposição e venda de quadros, videoinstalação, apresentação musical e ato público na Praça XV.

Para Fabiane Minozzo, Coordenadora Técnica de Saúde da Área de Planejamento 2.1, da OSS Viva Rio Saúde, os CAPS representam um marco histórico para a rede de atenção em saúde mental, pois foi a partir deles que os usuários puderam ser cuidados no território, próximo de suas famílias. “Queremos promover ações que trabalham com a singularidade dos usuários, possibilitando um espaço de saúde, de valorização da potencia de cada um, pois vemos que isso é importante para o seu tratamento e reabilitação. Esse é um espaço importante que aposta na autonomia e resgate da cidadania dos usuários, na interlocução com o território, no vínculo e na promoção de saúde”, disse.

O CAPS Maria do Socorro atende mais 190 usuários e aposta na revolução não somente assistencial, mas também em uma revolução cultural. Paula acredita que arte, terapia e estar próxima a rede afetiva possibilita ao paciente um tratamento mais eficaz e completo. “Ele não está internado fora do seu local, então a crise é parte do processo e por isso consegue produzir coisas baseadas na realidade que se confronta dentro dele”.

Isso pode ser visto nos quadros criados durante a oficina de artes do CAPS e expostos na Biblioteca Parque da Rocinha e no espaço de arte do CAPS Maria do Socorro. Um dos artistas, Bruno Oliveira, pintou dois quadros nos quais retratava a Rocinha sempre muito colorida e organizada. “Através da arte eu consigo me expressar, pois ela representa a forma como eu vejo o mundo e tudo que sou”.

Os quadros vendidos na biblioteca terão 70% do valor arrecado revertido para o paciente e 30% para os materiais da oficina. Essa renda fez com que Bruno visse na arte uma oportunidade de crescer na vida. “Eu ainda penso em sobreviver com o dinheiro que ganho vendendo os meus quadros”, disse. A exposição ficará em exibição na Biblioteca da Rocinha até o dia 30.

A ação foi promovida pelo CAPS Maria do Socorro Santos, em parceria com Biblioteca Parque da Rocinha. O CAPS funciona 24h, sempre com apoio com a Unidade de Pronto Atendimento da Rocinha e a Clinica de Saúde da Família Maria do Socorro Silva e Souza.

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