Encontro discute Mediação de Conflitos

Um dia chegou um homem alto, abalado, dizendo que tinha apanhado da mulher. Até que ela surgiu, baixinha e desconfiada, reagindo: “Bati e bato mesmo!”. A cena, hilária, foi presenciada por Cláudio Napoleão, hoje da Rede do Viva Rio, quando atuava no Centro de Mediação de Conflitos do Iser, no Morro da Babilônia, no Leme, Zona Sul da cidade, e foi uma das que ilustrou o Encontro de Mediadores, realizado na sexta-feira (4), no Viva Rio.

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Napoleão contou um caso de quando fazia mediação de conflitos pelo Iser|Foto: Tamiris Barcellos

A maioria dos cerca de 40 participantes eram policiais de Unidades de Polícia Unificadora (UPP), que trocaram experiências e informações. Maciel Teixeira de Freitas, da Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP), trouxe estatísticas, indicando a redução da mediação de conflitos pelos 47 policiais que atuam nesta função: 28 no fim de 2012; 508 em 2013; 212 em 2014 e, até agosto de 2015, 115. “Os índices vêm caindo”, lamentou. Os principais temas são conflitos entre vizinhos e familiares.

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Maciel Teixeira de Freitas lamentou a queda de mediações de conflitos |Foto: Tamiris Barcellos

No fim do encontro, o coronel Ubiratan Ângelo , coordenador de Segurança Humana do Viva Rio, frisou: “a principal função do policial não é prender, mas mediar. A polícia não está acostumada a fazer mediações, vocês são pioneiros em experimentar, um divisor de águas”. A socióloga Bárbara Soares, também participante, lança no fim do ano, em parceria com o Iser,  um livro com histórias reais de mediação de conflitos, “desse processo que está em curso”, completou.

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Ubiratan: “a principal função do policial não é prender, mas mediar”| Foto: Tamiris Barcellos

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A socióloga Barbara Soares e Daiana Albino Pena | Foto: Tamiris Barcellos

A primeira questão foi levantada pela policial Cristiane Barbosa Costa, lotada na UPP da Cidade de Deus. “Recebemos demandas de dependentes químicos que geram muitos conflitos. Para onde encaminhá-las?”  A resposta veio da assessora da Rede, Daiana Albino Pena,  que coordenou a reunião. “A reforma psiquiátrica propõe que os dependentes químicos sejam mantidos em seu convívio social. O melhor local é o CAPS-AD. A rede de saúde mental fará depois o melhor encaminhamento”.

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Cristiane Costa questionou como encaminhar dependentes químicos | Foto: Tamiris Barcellos

O policial Alexandre da Silva Barreto, lotado na UPP Mangueirinha, em Duque de Caxias, fez um pequeno balanço da mediação de conflitos em seus moldes atuais. Em 2011, o Ministério Público (MP) criou um curso de Mediação de Conflitos e disponibilizou três desembargadores para orientar os policiais. “O problema é que não há um local, estrutura de telefone ou viatura disponíveis ao trabalho. O projeto começou em 2012, está em andamento e a prática é diferente da que foi ensinada no MP”, explicou.

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Alexandre da Silva Barreto fez um balanço da atual mediação de conflitos| Foto|: Tamiris Barcellos

Nilmara Costa, articuladora da Rede, questionou: “Me parece que a falta de orientação causa uma aflição entre os policias que atuam na mediação”. Barreto concordou que não existem regras e as orientações variam de acordo com quem assume o comando da corporação. Observou, ainda, que o uso da farda afasta a população que necessita de mediação. A falta de regras, por sua vez, seria compatível com o cenário improvisado das comunidades, áreas por si só desordenadas.

Para a advogada Márcia Charneski, voluntária do Viva Rio, o futuro do Direito é a mediação de conflitos: “O Judiciário está atolado de processos. Mediação é uma cidade informal. Há uma nova lei sobre Mediação de Conflitos que não vai afetar esse trabalho, voltado a situações informais para manter as relações humanas”, avaliou.

Enquanto era analisada a possibilidade de envolvimento na mediação de conflitos de assistentes sociais e do conselho tutelar, entre outras instituições, Daiana propôs trazer aos próximos encontros representantes de serviços de saúde, de saúde mental, de conselhos e associações de moradores. “Vai ajudar vocês a entender como elas funcionam e como poderão acioná-las”, sugeriu.

(Texto: Celina Côrtes|Fotos: Tamiris Barcellos)

 

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